segunda-feira, 26 de março de 2007

Pelo fim do desgosto

Falem o que quiserem, mas pra mim o mau do século é a televisão. Não o aparelho em si, mas a alienação crescente que este provoca dia a dia. Mais nocivo que o conteúdo pseudo cultural das emissoras que brigam pelo Ibope, é a inserção publicitária criada às raias da cultura de guerra.

Digo isso porque fui a experimentar um desses produtos instantâneos com promessa de sabores inimagináveis. Induzido por uma pífia esperança, levando embaixo do braço uma revista com a entrevista do Gabeira cercada de mentiras digitais (assim que uma amiga que escreve pra Cult define as revistas masculinas), fui ao supermercado.

Enquanto procurava no freezer tentava imaginar o conteúdo da reportagem, afinal Gabeira tem um passado político memorável e um presente muito respeitado, a matéria devia ser excelente. Nomes como o deputado Gabeira, o senador Eduardo Suplicy, a ex-senadora Heloísa Helena, os ex-governadores Leonel Brizola e Miguel Arraes são [vivos ou mortos] a tábua de salvação para que escrutínio não caia em descrédito total e absoluto.

Suspirei e pensei: “grandes políticos”. De súbito, percebi que não havia muitos nomes para citar, seria deficiência de minha memória ou da casta que nos representa? Em uma época onde o marketing tem um poder superior ao debate, onde começar a procura por estandartes de nobreza política? Não sou ingênuo ao ponto de achar que os bons políticos são perfeitos, mas nos exemplos citados, o saldo é incomparável, quase cabal.

Os atuais políticos são contemporâneos aos demais perfis talhados para inflar o gosto público. Novos músicos, atrizes, artistas plásticos e sabe-se lá mais o quê são meticulosamente criados para agradar os escravos televisivos. É incontestável que tanto rigor para criar uma personalidade sobre outra, irá esvair a essência humana. O medo de perder sua posição topocêntrica cicatriza a máscara ao artista e ao político.

Quando me dei conta, questionava como o povo brasileiro aceitava pacificamente a morte da espontaneidade, do ardor guerreiro de nossos representantes. Tudo isso em frente a uma sessão de alimentos prontos para o consumo, onde tentava escolher qual o sabor, mesmo sabendo que todos teriam gosto de tempero de miojo. Sorri do antagonismo de minha revolta e abandonei a compra.

Quem escolhe por você, durante quatro anos, não pode ser prêt-à-porter. Não escolha os embalsamados, emparedados, encurralados e tantos outros ados que suprimem a vontade humana. Você é um individuo, então aja como tal.

Ah, ia me esquecendo, evite comida industrializada. Esses flavorizantes, corantes, conservantes, aromatizantes e anabolizantes que compõe a mistura não fazem bem a saúde.

Um abraço,
Eduardo Morello

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