segunda-feira, 26 de março de 2007

As eternas viúvas do PT

Para essa semana, eu estava decidido a escrever, sobriamente, sobre política. Além de acompanhar os fatos da semana, tento perceber o que aflige à população ou, pelo menos, desperta a dúvida.

Enquanto tomava um cafezinho, não consegui evitar e ouvi a conversa de dois pseudodoutores que portavam seus imaculados jornais. Discutiam sobre um artigo de Arnaldo Jabor, que dizia como ele estava indignado com a violência do País e o que deveria ser feito para solucionar mais esse problema.

Nesse hábito de viver tentando contar o amanhã ainda hoje, o jornalista e sua obrigação moral se tornam um mito, uma lenda. Conversar com um jornalista é como encontrar um elfo ou um gnomo. O que é para ser sempre questionado é aceito como o líquido do Santo Graal. Qualquer dia desses, assim como médicos e advogados são doutores, nós receberemos o desígnio de São.

Saí rapidamente em direção ao caixa, mas não tive saída: fui chamado à conversa.

Viro-me e já vem um “o que você achou do artigo dele (Jabor)?”, perguntou um dos ilustríssimos. Para cortar logo, mandei um “não li”. Mas, como meu destino era ouvir esse despautério, rapidamente apareceu um recorte de jornal com o que fora publicado.

Não lê-lo teria sido o meu mais sublime ato. Digo isso porque é triste ver que homens com a capacidade, com o dom de estimular discussões preferem uma visão pessimista em que nada presta e só eles vêem a verdade. Daqui a pouco a medida moral desses intelectuais independentes será em litros de água de salsicha. Só falta sair gritando: “Vamos devolver o Brasil para Portugal!”. Mas como a verdade deve ser dita, a coluna é bem escrita e tem um bom momento, quando dá o alerta de que a discussão não é política, mas sim humana. Isso é muito importante e essa tônica deve ser levantada, ainda que a indignação deste patriota tenha início nas férias, em Portugal.

Depois de defender que o intelectual não deve se omitir às barbáries, o que é uma outra verdade, ele cita o caso Celso Daniel como um conveniente arquivamento de investigação. Pronto. Não faltava mais nada. Agora toda desgraça é culpa do PT. Houve um assassinato, a culpa é do PT. Assaltaram um banco, culpa do PT. Drogas, extorsão, seqüestro, carnê atrasado das Casas Bahia: PT, PT, PT e PT.

Virou governo, virou conspiração. Se eu atrasar meu aluguel, já tenho a resposta: PT. Não sou a favor do PT, longe disso. Acredito que a dívida moral e social do partido com o Povo Brasileiro é enorme, mas daí a virar boneco de pano em sábado de Aleluia é um pouco demais. Apesar de já estar enjoado de ler o Clóvis Rossi criticando o partido do governo eu bato palmas, pois tem conteúdo, tem fundamentação.

Queria saber quem o Arnaldinho culpou quando assassinaram o Chico Mendes, o PC Farias ou o governador do Acre, Edmundo Pinto. Essas viúvas do PT têm uma qualidade que todo flamenguista tem. Se não se lembra, vou falar pra você: “Uma vez flamengo, flamengo até morrer”.

Um abraço,
Eduardo Morello

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